Por uma teoria unificada das Fantasy Armors
Armadura estilo Fortaleza Ambulante |
Focando nos fórums, grupos de whatsapp, grupos de facebook ou qualquer message board sobre D&D e semelhantes, alguns temas costumam gerar Rage com extrema facilidade. É de difícil compreensão o que realmente faz com que as pessoas se dividam tanto sobre tais temas, supõe-se que exista alguma substância que permeie alguns objetos e que estimule um ódio completamente desproporcional nas diferenças de opinião acerca de temas mundanos mas extremamente importantes, como:
- D&D 4º Edição
- rpg está virando MMO
- magias OP
- powerplay vs roleplay
- homebrews
- star wars vs startrek
A lista de coisas que causam Rage é extensíssima e varia com a cultura do fórum em questão, porém os temas acima costumam ser causadores universais e além destes que estão sumariamente listados existe um tópico que costuma migrar para outros aspectos que vão muito além do escopo nerd fictício em que o debate se inicia: as Fantasy Armors.
O que são Fantasy Armors?
Fig 1: Mulher trajando Fantasy Armor |
Fantasy Armor é o nome dado às armaduras encontradas em ilustrações ou retratações fictícias e fantásticas destas. Até aí tudo bem, porém devido ao histórico polêmico de incorporações e atribuições estéticas feitas pelos artistas nas armaduras a coisa começou a ficar complicada. Sabe aquela chainmail-bikini? Ou aquela pele de urso sexy com uma ou outra tirinha de couro? Aquela plate ridiculamente colossal? Aquela armadura feita de ouro e cheia de gemas? Aquela tiarinha de prata do Seya na saga de Poseidon? Pois bem, todos são exemplos verossímeis de fantasy armor, ou armadura fantástica.
Em alguns fórums e em debates com amigos nerds podemos nos deparar com uma imagem legal e alguém pode mencionar que rola fantasy armor. As vezes o debate se limita avaliar se arte é de bom gosto ou não, mas o pau começa a quebrar quando se sai da esfera estética e é abordado um dos dois pontos abaixo:
a) sexismo;
b) praticidade e precisão histórica;
O tópico (a) costuma fazer referências a categoria "quase nada" (ver item 2 abaixo) de armaduras fantásticas. É importante lembrar que armaduras de fantasy armor não têm, a priori, nenhum compromisso com praticidade e utilidade, apenas com agradar a visão, o que culmina no tópico (b). As categorias de fantasy armor (na qual a "quase nada" se inclui) serão descritas logo mais. Outro aspecto relevante dessas armaduras é que elas também não possuem NENHUM compromisso com as estatísticas e números das regras do jogo. Se a plate armor da Fig. 1 que irracionalmente envelopa os seios da guerreira retratada, dando vulnerabilidade a impactos e vibrações, fornecer AC 18, é 18 e pronto.
Portanto, sabendo que as fantasy armors não precisam apresentar lógica alguma e contemplando as inúmeras retratações que encontramos nas mais diversas mídias, organizou-se as fantasy armors em 5 categorias:
1) Fortaleza Ambulante
Fig. 2 Ilustração de Daehun Park retratando uma Fortaleza Ambulante |
O personagem é tão exageradamente coberto de metal que você se questiona como ele se move ou consegue ficar de pé com mais de 500 kg de armadura. A intenção aqui é dar ao personagem um ar de notoriedade e intimidação. Problemas como calor e necessidade de ir ao banheiro são colocados de lado devido ao escudo da ficção. A maior parte do debate aqui se foca no aspecto (b) devido a impraticidade e imobilidade que essas armaduras trariam num mundo menos irrealista. Além disso as "Fortalezas Ambulantes" são utilizadas como referência mental por alguns jogadores quando "seu guerreir@/paladin@ estiver em níveis mais altos", o que muitos alegam ser uma influência de MMO's, o que gera ainda mais Rage.
2) Quase Nada
Não é precisamente uma armadura, mas sim a falta absoluta desta. Personagens com esse tipo de fantasy armor a usam apenas para evitar serem classificados como nudistas. Em geral apresentam algum recurso ou desculpa para manter o personagem exposto, seja uma habilidade mágica, seja uma agilidade fora do comum que "uma armadura pesada atrapalharia". Muitos personagens realmente não utilizam armaduras e pautam em outras questões para se proteger, como a agilidade supracitada, posicionamento ou itens mágicos. Todavia sabemos que a real desculpa para a "Quase Nada" é o fan service, o que chama o aspecto (a) para o debate e a partir daí iniciar-se-á uma longa e exaustiva batalha que contemplará temas terceiros. Muito cuidado ao postar imagens com esse tipo de armadura, certamente causará Raeg no meio em que for compartilhada. Esse próprio parágrafo, mesmo que cuidadosamente escrito, causará Rage em alg@ns leitor@s.
Fig. 3 Capa da revista Heavy Metal |
É importante citar que assim como os críticos de fantasy armor criticam o realismo e a lógica de armaduras masculinas, o mesmo deveria ser feito para armaduras femininas. Infelizmente muitos dos críticos entrevistados reconhecem que imaginam NPC's e personagens femininas com fantasy armor inclinadas ao "Quase Nada". Tal prática deve ser combatida, sexismo é ruim e igualdade é necessária. Felizmente apesar do "Quase Nada Feminino" veicular com força em alguns meios, no D&D e jogos ocidentais o "quase nada" ofensivo é raramente encontrado hoje em dia, basta folhear o livro do jogador. Boa parte do material "Quase Nada" ofensivo vem de pinups e artistas orientais (nesse segundo caso existindo para personagens masculinos também).
3) Brilho Eterno
Fig. 4 Uma Brilho Eterno com Fortaleza Ambulante |
A armadura é excessivamente decorada de todas as formas possíveis (variando de detalhes em ouro a gemas encrustadas) para basicamente criar um indicador de "alvo importante" ou "tesouro ambulante" no personagem. Em geral a categoria "Brilho Eterno" se combina a outra categoria de fantasy armor, conforme visto na figura 4. Normalmente é utilizada em NPC's para denotar posição hierárquica e riqueza. Podem as vezes conter grandes espinhos para se tornar sua versão maléfica, espinhos esses que podem tanto intimidar quanto espetar o próprio usuário e seus lacaios.
4) Ultra Estilo
São armaduras que negligenciam a praticidade em prol do estilo e da aparência. São alvos tanto do tema (a) quanto (b). Pode-se dizer que flutuam entre a "Fortaleza Ambulante" e a "Quase Nada", dado que em geral são "slim fit" e tendem a valorizar as curvas e músculos dos personagens. A Fig. 1 é um caso clássico de Ultra Estilo, muito comum na estética contemporânea. Em geral tais armaduras levam encaixes impossíveis ou irracionais, possuem pouco revestimento (parecendo as vezes terem sido colocadas "a vácuo") e colocam elementos inúteis como salto-alto na armadura. Um post com esse tipo de armadura pode causar Rage, dado que em personagens masculinas ela contorna os músculos marciais enquanto em personagens femininas ela tende a contornar e retratar partes "libidinosas" das mesmas.
Alguns aspectos dos traços mencionados acima podem ocasionalmente ser encontrados no mundo real (sim até salto alto para montaria principalmente), mas em geral são para usos cerimoniais e não são otimizados para o combate.
5) Impor Terror
Fig. 5 Impor Terror com entalhes disformes |
A armadura é feita basicamente para intimidar os adversários. É uma espécie de combinação da versão maléfica da "Brilho Eterno" com a "Fortaleza Ambulante", mas não necessariamente se prende a isso. É tipicamente reservada a vilões para intimidar ou deixar claro que ele é o "malzão". A armadura do Sauron nos filmes do Senhor dos Anéis é um exemplo clássico da "Impor Terror". Os personagens podem utilizar essa armadura normalmente para deixar claro que o papo tá sério. Em geral esse tipo de armadura aparece em duas formas: com entalhes de bestas, anjos, demônios, animais, enfim, entidades discerníveis, ou entalhes absolutamente disformes saídos de um pesadelo Lovecrafteano.
Fig. 6 Plate Armor italiana do século XV |
Portanto está registrada uma inútil análise superficial e rasa dos múltiplos tipos de armaduras que os personagens que vemos nas gravuras de livros, quadrinhos, animes, e filmes costumam usar. É importante sublinhar que as armaduras reais não são necessariamente "melhores" que as "fantasy armors", cada um reserva o direito de ter a própria estética e imaginação associados a própria subjetividade também pautada no respeito a@s demais. Concluo esse texto com essa maravilhosa armadura completa-realista-sem graça. Forte abraço.
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